Não é segredo que o big data oferece um enorme potencial de negócios às empresas. Todo executivo sênior do planeta já sabe disso. Bem menos conhecidas, contudo, são as etapas pelas quais as organizações devem passar para identificar esse potencial. Mesmo com todo o entusiasmo justificável, muitas delas não o aproveitam completamente – ou, pior, deixam-no para a concorrência.
As soluções de big data podem ser mais flexíveis, mais escaláveis e mais econômicas do que nunca, mas requerem muitas mudanças das empresas – mudanças não apenas no modo como os dados são coletados, analisados, armazenados e usados, mas também no acesso e na proteção deles, na interação com consumidores que possuem informações vitais e na maneira como aproveitam novas habilidades e tecnologias.
As empresas terão de adotar novas parcerias, estruturas organizacionais e até ideologias por conta do big data. Para muitas, o desafio do big data parecerá demasiado, mas não precisa ser assim.
Componentes
Consideramos útil dividir o big data em três componentes principais: uso de dados, motor de dados e ecossistema de dados.
Competências
As organizações podem implantar um quadro sólido para materializar o big data de maneira bem-sucedida pondo para funcionar seis competências, duas para cada componente.
1- Identificar oportunidades
O big data pode agregar valor ao negócio de várias maneiras, mas as oportunidades de inovar mais com dados – potencialmente mais lucrativas – provavelmente não serão muito aparentes. As empresas precisam criar um ambiente no qual novas aplicações de dados possam ser rapidamente identificadas e desenvolvidas; é isso que vai diferenciá-las da concorrência.
O melhor caminho é, portanto, uma cultura em que seja crucial encorajar experimentos e soluções inovadoras, além de ampla gama de talentos, que vão desde habilidades com dados científicos até domínio empresarial.
Apesar de parecer um desafio formidável, criar um processo de ideação voltado para dados não é tão difícil quanto se pensa. Ele envolve três etapas principais:
Encorajar ideias não tradicionais. A exploração de novas aplicações de dados tem de ser encorajada em todos os níveis da organização, dando aos colaboradores tempo e recursos para que desenvolvam suas ideias. Os experimentos precisam de direcionamento, no entanto; eles têm de começar por um problema da empresa. O problema de uma grande fabricante de automóveis, por exemplo, foi desenvolver usos inovadores para os dados coletados e transmitidos por sensores dos carros e, para isso, a organização montou uma equipe especial. Tal iniciativa enviou aos funcionários uma mensagem clara: soluções novas e criativas não são apenas bem-vindas; elas constituem uma prioridade da empresa.
Fomentar a colaboração entre profissionais de dados e outros. A ampla variedade de conhecimentos necessários para identificar e desenvolver aplicações – em ciência de dados e analytics, em novas tecnologias e em novos negócios – raramente será adquirida por um único indivíduo. Tais esforços tendem a exigir habilidades de muitas pessoas, localizadas em toda a organização.
Isso torna vital a criação de fortes ligações entre profissionais que provavelmente têm históricos muito diferentes e pouca experiência de trabalhar juntos. O diálogo frequente e a colaboração contínua ajudarão essas equipes interdisciplinares a priorizar os problemas e oportunidades mais relevantes para a empresa. Processos formais podem estimular a colaboração, bem como um “empurrãozinho de cima para baixo” mais informal.
Adotar uma abordagem “teste e aprenda”. Velocidade e agilidade são essenciais para a criação de aplicações de big data. A regra deve ser ciclos curtos, desenvolvimento iterativo e pilotos frequentes. Correr riscos é uma atitude que precisa ser encorajada, e os erros devem ser aceitos. O big data ainda é um território pouquíssimo explorado e, nele, até o desapontamento pode ensinar muito – ou, pelo menos, um desapontamento cuidadosamente analisado.
2- Construir confiança
O acesso à informação, em grande parte de natureza pessoal, é fundamental para extrair valor de aplicações de big data. No entanto, os consumidores se preocupam cada vez mais com o modo como as empresas usarão as informações que acessam sobre eles. O BCG entrevistou aproximadamente 10 mil consumidores, de países desenvolvidos e em desenvolvimento, para uma edição recente da pesquisa Global Consumer Sentiment e descobriu que apenas 7% se sentem confortáveis com a possibilidade de seus dados serem utilizados fora do propósito para o qual foram coletados.
Ou seja, usar os dados de maneira responsável, clara e transparente é preciso. Se o fizerem, as empresas podem diminuir as preocupações e o ceticismo dos consumidores e ganhar uma importante vantagem competitiva.
As organizações que conseguirem construir confiança serão mais bem-sucedidas na aquisição e uso de dados confidenciais. Acessarão os consumidores de um modo que empresas menos abertas e disponíveis não conseguirão. O BCG chama isso de “vantagem da confiança” e a traduz em números: as organizações que administrarem bem a confiança serão recompensadas com cinco a dez vezes mais acesso aos consumidores – na maioria dos países.
O que é administrar bem a confiança? Isso implica ao menos três práticas:
3- Estabelecer a plataforma
O relacionamento com dados é antigo nas empresas, e esse passado muitas vezes pode se voltar contra elas no caso do big data.
A experiência acumulada ensina a elas, por exemplo, que sua infraestrutura de tecnologia da informação (TI) deve ser grande, rígida e cara, formada por sistemas complexos customizados para uma tarefa particular e alimentada por dados minuciosamente refinados.
Ocorre que o big data é uma experiência muito diferente disso, com tecnologias, requisitos e possibilidades diversos. Se desejam explorar completamente as novas oportunidades, de maneira rápida e com boa relação custo-benefício, as empresas precisam entender como a TI mudou e desenvolver as próprias plataformas de dados em conformidade com essa mudança.
A infraestrutura de dados tradicional, que depende de servidores de dados centralizados e altamente estruturados, não é mais a única opção. Muitas das novas ferramentas, como as baseadas no Apache Hadoop (uma estrutura de código aberto que permite às aplicações alavancarem dados distribuídos em máquinas comuns), são mais flexíveis, bem mais baratas e rápidas de implementar do que a infraestrutura tradicional. A TI analítica também pode ser rapidamente implementada. Além do Hadoop, há a Amazon Web Services, a SAP HANA e outras.
Essas novas ferramentas de dados têm um potencial extraordinário, embora também estejam sujeitas a questionamentos: o que acontece com os sistemas existentes? Como as ideias coletadas por meio de uma análise de dados inovadora são colocadas em operação? E talvez a pergunta mais importante: como a base técnica que as empresas estabelecem hoje pode apoiar as aplicações de dados de amanhã?
Flexibilidade é crucial não apenas para garantir velocidade e eficiência, mas também para conquistar vantagem competitiva. Para obter e manter uma vantagem, as empresas precisam implantar rapidamente novos usos de dados sem aumentar os custos na mesma velocidade.
Analisamos diversos casos nessa área e chegamos à conclusão de que três orientações são particularmente úteis para construir a plataforma ideal do big data:
4- Moldar a organização
As plataformas de big data mais bem-sucedidas alavancam não apenas novas tecnologias, mas também novas estruturas corporativas. Centralizar recursos-chave (cientistas de dados e analistas, por exemplo) em uma unidade isolada ajudará as empresas a atrair e conservar os talentos de que precisam, a desenvolver e administrar aplicações de maneira eficaz e a estimular a inovação sem duplicação de esforços.
As organizações precisam evitar as “torres de marfim”, contudo. Os novos recursos da ciência de dados e do data mining devem estar ligados às empresas existentes. Isso mantém o foco em casos de usos úteis e reais – não em casos fantasiosos.
É claro, as unidades de negócios têm de se sentir confortáveis com essas novas dinâmicas. Uma abordagem que consideramos eficaz para tanto é inicialmente focar desafios específicos. Concentrando-se em um problema central e reunindo todos para resolvê-lo, especialistas de dados e de negócios não só aprendem a trabalhar juntos com efetividade; eles desenvolvem os laços e a confiança necessários para criar as aplicações de dados mais importantes. Isso torna o big data mais “real” para cada unidade de negócios e atrai a atenção e adesão de seu pessoal.
Conforme as empresas desenvolvem sua nova organização focada em dados, elas são guiadas por três princípios fundamentais:
Igualmente importante, o centro de excelência pode promover a sinergia de ideias e espalhar as melhores práticas em dados pela organização. Abordagens de sucesso passam a ser replicadas por outras partes da empresa e o risco de esforços duplicados (que geram uma anarquia de dados) cai substancialmente.
Esse indivíduo também trabalhará para assegurar a governança e a gestão apropriadas dos dados. A existência de patrocinadores dentro de unidades de negócios é igualmente importante.
Sabemos que evitar o choque cultural não é fácil: a empresa não pode ignorá-lo, mas, ao mesmo tempo, não pode dar aos novos colaboradores privilégios que outros não têm – algo que pode gerar ressentimento e prejudicar a colaboração. Um bom ponto de partida é ter um diálogo contínuo com os especialistas trazidos de fora, certificando-se de que recebam problemas desafiadores e trabalhando com eles para oferecer as ferramentas necessárias à solução desses problemas. Isso ajuda a empresa não só a atender às expectativas deles, como também a administrá-las.
5- Participar de um ecossistema
O big data está transformando não apenas a maneira como as empresas fazem negócios, mas também com quem negociam. Ao criarem a necessidade de parcerias, as novas aplicações de dados muitas vezes borrarão as fronteiras do setor de atividade. Algumas companhias deterão informações de grande valor para outras, estimulando novas relações comerciais e novos fluxos de receita. Fornecedores de tecnologia desempenharão um papel cada vez mais visível e influenciador, pois criarão e controlarão os padrões técnicos. Todas essas tendências tornarão as parcerias mais uma obrigação do que uma escolha.
Ainda que agir sozinho signifique perder oportunidades de negócios – e valor -, formar parcerias levanta questionamentos que precisam ser respondidos: a empresa deve ser “doadora” ou “receptora” de dados? Como ela pode adicionar valor às aplicações de dados nascentes de outros setores produtivos? De quais ativos externos e conhecimentos ela precisa para desenvolver essas aplicações? Identificar onde uma empresa se encaixa dentro de um ecossistema de dados raramente é simples.
No BCG, constatamos que por meio de três etapas principais as organizações podem se posicionar para destacar e alavancar as alianças de dados certas:
Seguradoras, por exemplo, descobriram que informações coletadas por fabricantes de automóveis por meio dos sensores dos carros permitem que elas unam bonificações a hábitos de direção. Resultado: um novo modelo para calcular taxas, que muitos motoristas (pelo menos os bons) vão preferir, já que uma direção segura diminuirá custos de seguro. As empresas precisam pensar de maneira ampla e identificar onde devem adicionar valor.
6- Fazer os relacionamentos funcionarem
As parcerias que o big data estimula têm de ser administradas e mantidas. Os termos da empresa precisam ser construídos de maneira que todos possam prosperar e receber um incentivo para trocar informações complementares.Plataformas técnicas devem permitir que dados de parceiros sejam rapidamente incorporados e alavancados. O objetivo não é apenas o sucesso, mas o sucesso contínuo, constantemente melhorado e expandido sobre efeitos conexos.Os três passos a seguir podem ajudar a assegurar que os relacionamentos sigam seu curso:
Reaprendendo do zero
Para controlar o big data, as empresas terão de esquecer muito do que sabem sobre trabalhar com dados. Precisarão adotar novas mentalidades, novas tecnologias e, sobretudo, novas competências. E terão de fazer isso rapidamente, porque o big data oferece riscos – organizações tradicionais podem se ver vulneráveis a novos entrantes do mercado que sobressaiam nessas competências.
Nada disso é fácil de fazer, mas quem seguir nossas orientações sobre as seis competências terá o caminho facilitado.